Uma semana incrível para qualquer enófilo. Esse é o objetivo da primeira Semana Riesling que a VINDAME promove entre os dias 22 e 27 de outubro. Durante esse período, a rainha das uvas brancas vai ser protagonista de jantares harmonizados em restaurantes estrelados, degustações dirigidas e até uma grande degustação que vai reunir cerca de 50 diferentes rótulos.
“Vamos contar com a participação de restaurantes, lojas de vinhos e winebars para levar os rieslings ao maior número de pessoas possível”, explica Michael Schuette, idealizador do evento e fundador da VINDAME. Esses estabelecimentos que integram a Semana Riesling estão em São Paulo, Campos do Jordão e Campinas. O ponto alto do evento certamente será a presença do produtor Baron Knyphausen, que terá uma agenda concorrida em São Paulo. Sua vinícola está instalada na região do Rio Reno desde 1818 já tendo, inclusive, servido o rei da Prússia.
O hotel Toriba, um dos mais conceituados de Campos do Jordão, confirma sua participação com a ‘Confraria do Vinho Toriba’, no dia 18 de outubro. Ao todo serão degustados seis rótulos rieslings harmonizados com fondue de cogumelos. Esse evento é uma prévia do que vai ser apresentado ao longo da semana, em diferentes oportunidades. As inscrições já estão abertas e as vagas são limitadas.
Para saber mais sobre a programação dedicada à casta riesling, acesse: www.semanariesling.com.br
Veja abaixo a entrevista exclusiva do Olhar Turístico com Michael Schuette, idealizador do evento:
OT: Porque um evento totalmente voltado para a Riesling em São Paulo?
Michael: A uva Riesling não é bem conhecida no Brasil. Só alguns enófilos conhecem e não têm muita escolha. Muitas pessoas associam a uva Riesling com a “Garrafa Azul” da Alemanha, muito encontrado no Brasil há anos atrás. Mas essa percepção é errada. Isso porque o vinho da garrafa azul era majoritariamente da uva Müller-Thurgau, e só um pouco de Riesling. Riesling é a uva mais importante na Alemanha. Ela é mais versátil que outras uvas brancas. Em outros países, já acontece o equivalente à “Semana Riesling”, como em lugares como Estados Unidos, Canadá, Japão, China, Inglaterra e muitos outros países europeus, com bastante sucesso. Estamos organizando em São Paulo porque é o mercado mais importante de vinhos no Brasil. Futuramente pretendemos realizar a Semana Riesling em outras cidades, como Rio de Janeiro, por exemplo.
OT: O que seria o terroir ideal para um Riesling? Onde se encontram?
Michael: Riesling é uma uva que mostra todo o seu potencial em terroir “pobre” de xisto (ardósia), em encostas, que propiciam melhor exposição ao sol (o que esquenta a terra, continuando dar um pouco de calor às raízes, com a fruta exposta e já as noites frias (o que gera boa acidez).
OT: Os vinhos variam de acordo com a região produtora de forma mais acentuada?
Michael: Variam bastante, sim. Os terroirs mais típicos são a região do Mosel e do Vale de Reno. Além do solo específico, em cada uma dessas regiões, o clima também é um fator muito importante. As regiões de Württemberg, Baden e Palatinado são diferentes, também pela escolha dos viticultores que preferem vinhos muito mais secos; mas parece que o terroir em si do Mosel produz leveduras indígenas que não permitem converter todos os açucares em álcool. Tradicionalmente, os vinhos do Mosel têm mais açúcar residual do que das outras regiões (salvo para os vinhos que, durante o processo de vinificação, devem ficar com algum açúcar residual, como Spätlese ou Auslese).
OT: A Alemanha ainda detém os melhores Riesling?
Michael: Acredito que sim. A Alemanha simplesmente tem o melhor clima para isso, com o melhor solo – o terroir na Alemanha é melhor do que em muitos outros lugares, o que produz os melhores vinhos do nível Grosses Gewächs ou Grand Cru, na classificação do VDP. Mas na Alsácia também há Rieslings excepcionais. Os outros países produzem muito bons Rieslings de qualidade comparável com vinhos do nível VDP.Gutswein ou VDP.Ortswein, mas acho que os Grand Crus da Alemanha continuam ter, no vinho branco, a posição que os Grand Cru Classés de Bordeaux possuem.
OT – Quais as melhores oportunidades para escolher um vinho Riesling?
Michael: Riesling é um vinho que pode ser aproveitado em muitas situações – no terraço, na piscina, mas também com bastante comida. Riesling seco vai bem com saladas, peixes brancos, carne branca, crustáceos. Riesling levemente doce vai muito bem com alguns queijos, até gorgonzola, e têm Riesling de sobremesa que são fantásticos e, pela acidez e frescor, são mais fácil a beber do que um Sauternes. Mas cada pessoa tem a sua preferência…
OT: É um vinho gastronômico?
Michael: Riesling é um vinho bem gastronômico, porque sempre tem uma acidez bastante pronunciada. Isso é muito bom para ajudar digerir gordura. Também, os aromas do Riesling são complexos sem se impor muito, o que deixe espaço para o gosto da comida.
OT: Como o Riesling pode ser posicionado dentre os vinhos brancos de outras castas, como Sauvignon Blanc, Chardonnay ou as castas Portuguesas?
Michael: Pessoalmente, acho que o Riesling é muito mais versátil, com mais complexidade e variedade de aromas do que um Sauvignon Blanc, um Chardonnay ou um branco da Península Ibérica. O Riesling mostra suas caraterísticas conforme o terroir de onde vem, o que não é a mesma coisa com outros brancos, que podem ser mais semelhantes, sobre tudo quando não escolher os Cru’s top. Um Chardonnay top de Meursault é bem diferente de um Chablis Grand Cru, sem dúvidas, e um grande Chardonnay de Chile vai ser diferente. Nos Rieslings, mesmo as qualidades mais básicas vão mostrar mais variedade.
OT: Em quais mercados o Riesling é mais vendido e como é a aceitação em SP?
Michael: Riesling é muito vendido na Europa, sobre tudo na Alemanha, mas também nos Estados Unidos. Holanda e Noruega são dois países que consomem muito Riesling também. China e Japão são mercados importantes.
O Brasil fica no 17° lugar na importância de exportação de vinho da Alemanha, por exemplo. Poucas importadoras cuidam da importação de Riesling. Algumas vinícolas trocaram a importadora, por exemplo Dr. Bürklin-Wolf, um dos maiores e melhores produtores de Riesling do mundo, passou a trabalhar com a VINDAME. São poucas as importadoras que têm excelentes Rieslings alemães – produtores que fazem parte da VDP (Verband Deutscher Prädikatsweingüter), a associação das melhores 200 vinícolas alemães. Os vinhos deles podem ser reconhecidos facilmente pela águia num cacho de uvas. Esperamos que nosso evento em São Paulo vai aumentar o interesse dos enófilos pela casta Riesling. Ainda nunca encontrei alguém que, depois provar um Riesling, falou que não gostou ou achou ruim. O problema é que muitas pessoas desconhecem o Riesling, e – acostomado de encontrar muito vinho branco de qualidade inferior no mercado brasileiro – preferem tomar um vinho tinto, e nem provam o Riesling. Provar, conhecer, gostar…