Vamos conhecer um pouco mais sobre as fachadas dos prédios do Centro Antigo de São Paulo
Podemos observar as cidades de diversos ângulos, as fachadas dos edifícios dão pistas de diferentes padrões estéticos e seus símbolos. Em São Paulo diversas construções do centro velho possuem ramos de café em adornos presentes nas fachadas, um símbolo de poder econômico advindo da tradição agrícola do país, também identificado como ouro verde, dessa forma sua representação se vinculou com o poder instaurado durante o final do século XIX início do século XX.
Alguns exemplos que podem ser visitados em um percurso plano pelo centro antigo iniciando próxima a Praça da Sé, encontramos o Palacete Chavantes, fez parte da história da família do cafeicultor João Batista Mello de Peixoto, que construiu o prédio no terreno que recebeu como dote em seu casamento com Geneza Peixoto Gomide, filha do Senador e cafeicultor, Peixoto Gomide. A história do edifício remete ao lugar que a família ocupava na cidade, as relações de poder com negócios do café, vinculados de maneira habitual com a política.
A Casa Alves Lima, igualmente traz adornos com ramos de café frutificados, sua construção demonstra a opulência do início do século XX. Esse edifício é o primeiro a ser construído na Rua Barão de Itapetininga e assim como o Palacete Chavantes, é construído como moradia, depois é transformado em edifício comercial, na medida em que o centro velho se consolida como centro econômico e financeiro na primeira metade do século XX.
Este edifício, abrigou a família Alves Lima por quase meio século, (1905-1950) foi utilizada como moradia e apresenta em sua fachada detalhes delicados, estilo Art Nouveau, característicos da época de sua construção, com seus ramos de café laureando o esquadro da porta de entrada.
Já o edifício Guatapara, abrigou a primeira galeria do centro da cidade, aberta em 1933, ligando a Rua Barão de Itapetininga a Rua 24 de maio, o edifício pertenceu a família Matarazzo, sede da Companhia Agrícola Guatapara de propriedade da mesma família.
As ruas abertas após a construção do Viaduto do Chá são na época consideradas o centro novo da cidade, como nesse caso. No entanto, o edifício Guatapara é representativo em especial por ter sido construído no período de declínio da economia cafeeira e mesmo assim, utilizar o café como um símbolo de distinção em sua fachada.
Os arranha-céus do início do século XX surgem como um emblema de modernidade, mas como no caso do edifício Chavantes, se vincula a uma estética eclética ao trazer ícones de tradição antiga, como o painel decorativo do edifício, ao mesmo tempo volta a origem daquilo que o painel de fato representa, a tradição latifundiária e a hegemonia econômica e politica.
Os ramos de café também estão presentes em edifícios como o da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, (Edifício Saldanha Marinho) em que aparecem estilizados com uma estética art déco, geometrizados. Pode-se também verificar a estilização das folhas dos ramos de café no gradil do Edifício Azevedo e Villares, em especial o Edifício Azevedo e Villares tem como inspiração a estética de construção estadounidense, que desponta nos anos de 1930, tendo como ícone o Empire State Building (1929).
Esses são alguns exemplos de um olhar que busca pistas em uma cidade plural como São Paulo.
A cidade se revela através de vestígios a sobreposição de valores, como uma escolha que não rompe com a tradição, mas tenta flertar com as tendências mais contemporâneas.
Texto gentilmente oferecido por Ingrid Ambrogi – professora de História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie