Participar de um evento de vinhos, como vários que acontecem em São Paulo semanalmente é divertido e conveniente, pois na maioria das vezes você conhece e experimenta rótulos sensacionais e pode comprá-los com desconto em feira ou loja anexa ao evento.
Desta forma pode-se repetir onde, quando e com quem quiser a experiência do vinho.
Numa palestra do franco-brasileiro Jean Claude Cara, que vive na Borgonha e é especializado em vinhos raros e de guarda, a história é um pouco diferente. Seu objetivo é mostrar aos participantes que o vinho agora é prazer, mas era considerado alimento há 30 anos, principalmente na Europa e que no caso dos vinhos raros, ainda vivos!
Em sua 6ª apresentação em São Paulo, no simpático Chiado Restaurante em Moema, primeiro ele falou um pouco sobre a evolução das espécies (biologia), passou pela história de algumas regiões (economia) e mostrou que o decorrer e desenvolvimento, assim como o valor cultural da produção de vinhos acontece, notadamente na França, Espanha e Portugal.
De forma geral ele criticou quem consome vinho por status e paga caríssimo em vinhos mercadológicos. Ele conviveu com grandes mestres dos vinhos na França e ocupa o cargo de Embaixador da Borgonha para o Brasil.
A matéria prima de suas palestras é um produto em extinção, pois conforme ele afirma, os vinhos a partir de 2000 já não são mais os mesmos, pois a forma original do produto em si vai contra o sistema capitalista. Para ele, o acordo da Basiléia acabou com os pequenos produtores.
Autenticidade se sente na boca, os aromas podem maquiar.
Há 10 anos houve a abertura de muitos Borgonha com 20 anos e houve um esvaziamento dos vinhos de guarda na região. Para ele esse fato alterou profundamente a própria qualidade dos vinhos, pois o Pinot Noir por exemplo, uma das principais castas da Borgonha apresenta toques de Cereja Griotte nos primeiros 5 anos, com aromas mais fechados. A framboesa e o morango irão aparecer somente após 15 anos. A Borgonha é uma das regiões que mais preservam, com pequenos produtores que detêm verdadeiras lendas.
Com o emprego dos métodos ancestrais os vinhos continuam vivos, têm alma!
Atualmente a tecnologia permite produzir vinho onde não é naturalmente possível (irrigação, processos na produção…), assim muitas regiões acabam desenvolvendo vinhos com fins comerciais. Para ele o verdadeiro vinho só é possível onde a videira sofre. Os vinhos modernos tendem a ser vinhos mortos e seguem a linha dos queijos pasteurizados.
Jean Claude afirma que no Brasil existem micro terroirs parecidos com os Europeus e deu como exemplo a vinícola catarinense Villagio Grando, que fica em Água Doce e também mencionou Caçador e Maria da Fé, também em Santa Catarina.
Para a degustação promovida Jean Claude deixou as garrafas 10 dias em pé. Antes da abertura da primeira garrafa ele passa aos participantes uma pequena lista de considerações a respeito do serviço do vinho de guarda:
Passadas as recomendações começa a degustação, às cegas para treinar olfato e paladar nas nuances e notas e toques e aromas…
Como desafio aos mais apaixonados e entendidos Jean Claude sugere a todos identificar antes de ver o rótulo qual o ano e a apelação dos vinhos.
Nesta edição foram provadas grandes vieux de millêsime verdadeiras relíquias que transformaram a oportunidade em um privilégio!
Pommard 67
Mercurey 76
Frei João 63
Tavel Rosé 65
Vinhos únicos e incríveis que revelaram aromas e sabores muito distintos e diferenciados como caça abatida, urina, sangue, framboesa confitada, floresta…
Esta palestra é muito recomendada a todos que gostam de vinhos, pois depois dela vão encarar o hábito de forma diferente.